24 de set. de 2007

É preciso não esquecer nada

Cecília Meireles

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta
nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,

pois o resto não nos pertence

Foto: A Jornada de João Castela Cravo

Um comentário:

Menina Ruiva disse...

Quem esquece, não esquece por querer...
E quem quer? Esquece por quê?

Belo poema da Cecília...

Um abração, da Menina Ruiva.

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