30 de out. de 2007

À Margem de

Ana Elisa Ribeiro

Não quero ser muito
mais do que isso
me contento
com um Drummond
mal resolvido;
um Bandeira
mais atrevido;
um poeta
não marginal
mas
o próprio bandido.
Foto: Longway to nowhere de Vasco Oliveira

Mulher ao cair da tarde

* Adélia Prado

Ó Deus, não me castigue
se falo minha vida foi tão bonita!
Somos humanos,
nossos verbos têm tempos,
não são como o Vosso, eterno.

Foto: de Maria São Miguel

25 de out. de 2007

Malabaristas do Sinal Vermelho

João Bosco & Francisco Bosco

Daqui de cima da laje
Se vê a cidade
Como quem vê por um vidro
O que escapa da mão
Uns exilados de um lado
Da realidade
Outros reféns sem resgate
a própria tensão
Quando de noite as pupilas
Da pedra dilatam
Os anjos partem armados
Em bondes do mal
Penso naqueles que rezam
E nesses que matam
Deus e o diabo disputam
A terra do sal
Penso nos malabaristas
Do sinal vermelho
Que nos vidros fechados dos carros
Descobrem quem são
Uns, justiceiros, reclamam
O seu quinhão
Outros pagam com a vida
Sua porção
Todos são excluídos
Na grande cidade

Saudade

Patativa do Assaré(Antônio Gonçalves da Silva)

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

Foto: de Gustavo Fernandes

23 de out. de 2007

Caio Fernando Abreu

Que coisas são essas que me dizes sem dizer,
escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias.
Mas confuso, perdido, sozinho,
Minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti.
Torna-se desesperada, urgente.
Eu já não sei o que faço.
Não sinto nenhuma outra alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço?
Quando foi que me desequilibrei?
Não quero me afogar: Quero beber tua água.
Não te negues, minha sede é clara.

foto: Pescador Solitário de Mário Galante

Pra que arrepender-se então?

Søren Kierkegaard (Victor Eremita)

Se te casas, arrependes-te;
se não te casa, arrependes-te também;
cases-te ou não te cases, arrependes-te sempre.
Ri-te das loucuras do mundo e irás arrepender-te;
chora sobre elas, e arrependes-te também;
ri-te das loucuras do mundo ou chora sobre elas,
e de ambas as coisas te arrependes;
quer te rias das loucuras do mundo,
quer chores sobre elas irás sempre arrepender-te.
Acredita numa mulher, e irás arrepender-te,
não acredites nela e arrependes-te também;
acredites ou não numa mulher, arrependes-te de ambas as coisas.
Enforca-te, e arrependes-te;
não te enforques, e na mesma te arrependes.
É esta, meus senhores, a soma e substância de toda a filosofia.

Foto: Procurando...de Helena Maria Milheiro

16 de out. de 2007

Que dor de mim me transtorna?

Fernando Pessoa

Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.

São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?
Foto: algo para... pensar. De Pedro Bento

O que a vida fez de mim?

Fernando Pessoa,

Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!

Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...
Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, 'stou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!

Foto: A espera...de Antonio Ramos

6 de out. de 2007

Era Bom

Orquestra Imperial


Era bom quando você chegava
Era bom quando você saía
As histórias que você contava
As canções que eu te refazia

Era bom pintar aquele sexo
consumir nossa energia
viajando pelos 7 cantos
descobrindo a filosofia

Era bom ficar daí calado
pra senti a nossa harmonia
era bom aquele seu abraço
que tava no tom

A vida já não mais andava
foi longe e eu nem previa
não era como era antes
já rolava uma nostalgia.

Não quero mais esse seu barco
do jeito que a coisa ia.
Melhor migrar prum outro canto
E rever a minha profecia.

A firma já tava quebrada
O clima não fortalecia
O samba tava em três por quatro
não era o que me fazia

Agora não é como antes
E hoje o amanhã não sei
É bom ficar desimportante
Pra alguém que eu já desencantei

Era bom
Ai, como era bom!

Foto: de Paulo Bizarro

Luxúria

Isabella Taviani

Dobro os joelhos
Quando você, me pega
Me amassa, me quebra
Me usa demais...

Perco as rédeas
Quando você
Demora, devora, implora
Sempre por mais...

Eu sou navalha
Cortando na carne
Eu sou a boca
Que a língua invade
Sou o desejo
Maldito e bendito
Profano e covarde...

Desfaça assim de mim
Que eu gosto e desgosto
Me dobro, nem lhe cobro
Rapaz!
Ordene, não peça
Muito me interessa
A sua potência
Seu calibre, seu gás...

Sou o encaixe
O lacre violado
E tantas pernas
Por todos os lados
Eu sou o preço
Cobrado e bem pago
Eu sou
Um pecado capital...

Eu quero é derrapar
Nas curvas do seu corpo
Surpreender seus movimentos
Virar o jogo
Quero beber, o que dele
Escorre pela pele
E nunca mais esfriar
Minha febre...

Desfaça assim de mim
Que eu gosto e desgosto
Me dobro, nem lhe cobro
Rapaz!
Ordene, não peça
Muito me interessa
A sua potência
Seu calibre, seu gás...

Sou um encaixe
O lacre violado
E tantas pernas

Por todos os lados
Eu sou o preço
Cobrado e bem pago
Eu sou
Um pecado capital...

Eu quero é derrapar
Nas curvas do seu corpo
Surpreender seus movimentos
Virar o jogo
Quero beber, o que dele
Escorre pela pele
E nunca mais esfriar
Minha febre...


Foto: Deusa do Fogo de Paulo Marques

Companhia

Cazuza / Roberto Frejat / Ezequiel Neves

Se você quiser
Prender o seu amor
Dê liberdade pra ele
Mas nunca lhe diga adeus
Que adeus é tempo demais

Espera
De repente ele chegar
Com tanta história pra contar
Quem sabe pra repetir
O que você quer ouvir de novo

É um desperdício comum
Dois viver vida de um
Querer viver cada emoção eternamente
Querer viver cada emoção eternamente, não

Eu não ligo para estar sozinha
Pois tenho por companhia
Mil corações onde sou rainha

Pois cada homem que amei
Em cada um eu deixei
Uma pista do meu caminho

É um desperdício comum
Dois viver vida de um
Querer viver cada emoção eternamente
Querer viver cada emoção eternamente, não


Foto: Ficou o teu pé na areia de Margarida Araújo




Só se For a Dois

Cazuza / Rogério Meanda

Aos gurus da Índia
Aos judeus da Palestina
Aos índios da América Latina
E aos brancos da África do Sul
O mundo é azul
Qual é a cor do amor?
O meu sangue é negro, branco
Amarelo e vermelho

Aos pernambucanos
E aos cubanos de Miami
Aos americanos russos
Armando seus planos

Ao povo da China
E ao que a história ensina
Aos jogos, aos dados
Que inventaram a humanidade

As possibilidades de felicidade
São egoístas, meu amor
Viver a liberdade, amar de verdade
Só se for a dois
(Só a dois)

Aos filhos de Ghandi
Morrendo de fome
Aos filhos de Cristo
Cada vez mais ricos

O beijo do soldado em sua namorada
Seja pra onde for
Depois da grande noite
Vai esconder a cor das flores
E mostrar a dor(A dor)

Foto: Serenidade de Hugo Félix

Que é que eu sou

Paula Toller

O que é que eu sou?
Eu vim porque?
Pra onde eu vou?
Onde é que eu tava?
Onde é aqui?
Quem me mandou?
Qual é o nome da minha alma?

Acho que sou fruto da imaginação,
a imagem viva da ilusão.
Falso faz de conta do que seja uma mulher
ou uma miragem de um dejavi qualquer

O que é que eu sou?
Eu vim porque?
Pra onde eu vou?
Onde é que eu tava?
Onde é aqui?
Quem me mandou?
Qual é o nome da minha alma?

Acho que sou fruto da imaginação
A imagem viva da ilusão
Falso faz de conta do que seja uma mulher
ou uma miragem de um dejavi qualquer

Você é quem???

Foto: Procurando...de Helena Maria Milheiro

Depois De Ter Você

Adriana Calcanhotto

Depois de ter você,
Pra quê querer saber que horas são?
Se é noite ou faz calor?
Se estamos no verão?
Se o sol virá ou não?
Ou pra quê é que serve uma canção como essa?
Depois de ter você,
Poetas para quê? Os deuses? As dúvidas?
Pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê servem as ruas?
Depois de ter você...


Foto: de Joel Calheiros

Mas há a vida

Clarice Lispector

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Foto: de Rui Bento Alves

Eu Quero Ir Pra Rua

Paula Toller - letra
Coringa - música

Eu vou à cidade hoje à tarde
Tomar um chá de realidade e aventura
Porque eu quero ir pra rua
Eu quero ir pra rua
Tomar a rua

Não mais
Não mais aquela paúra
De ser encarcerada pra ficar segura

Já cansei de me trancar
Vou me atirar
Já cansei de me prender
Quero aparecer
Aparecer, aparecer

Eu sou da cidade e a cidade é minha
Na contramão do surto de agorafobia
Agora eu quero ir pra rua
Porque eu quero, quero ir pra rua

Levar
A dura de cada dia
Sair da minha laia, chegar na sua

Eu vou à cidade sem compromisso
Tomar um chá, um chá de sumiço no olho da rua
Porque eu quero ir pra rua
Eu só quero ir pra rua
Olhar a rua

Tomar, bem que se podia, ar fresco
Topar Banksy a pintar afresco

Já cansei de me trancar
Vou me atirar
Já cansei de me prender
Quero aparecer
Aparecer, aparecer, desaparecer ...
Foto: Uma luz ao fundo de Carlos Machado

Aninha e suas pedras

Cora Coralina (Outubro, 1981)
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Foto: Flores de primavera de Jose Luis Mendes

Eu era um lobisomem juvenil

Renato Russo

Luz e sentido e palavra -
Palavra é o que o coração não pensa
Ontem faltou água
Anteontem faltou luz
Teve torcida gritando quando a luz voltou
Não falo como você fala
Mas vejo bem o que você me diz
Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito
E você estava esperando voar
Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão ?
O que sinto muitas vezes faz sentido
E outras vezes não descubro o motivo
Que me explica porque é que não consigo
Ver sentido no que sinto, o que procuro
O que desejo e o que faz parte do meu mundo
O arco-íris tem sete cores
E fui juiz supremo
Vai, vem embora e volta:
Todos têm
Todos têm suas próprias razões
Qual foi a semente que você plantou ?
Tudo acontece ao mesmo tempo
Nem eu mesmo sei direito
O que está acontecendo
E daí, de hoje em diante,
Todo dia vai ser o dia mais importante
Se você quiser alguém prá ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui
Não digo nada, espero o vendaval passar
Por enquanto eu não sei - o que você me falou
Me fez rir e pensar
Por que estou preocupado por estar tão preocupado assim ?
Mesmo se eu cantasse todas as canções
Todas as canções
Todas as canções
Todas as canções do mundo
Sou bicho do mato mas,
Se você quiser alguém prá ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui
Ou então não terás jamais a chave do meu coração

Foto: de Rui Bento Alves

5 de out. de 2007

Sonhos

Shakespeare
"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta
que nem todas, só as de verão.
No fundo isso não tem importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares,
em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado."

Foto: Riqueza de côr de Manuel Passos

É Tão Gentil e Tão Honesto o Arde

Dante Alighieri

É tão gentil e tão honesto o ar
Da minha Dama, sempre que aparece
E a outrem saúda, que ante ela emudece
Toda língua, e ninguém ousa falar.

Ela se vai sentindo-se louvar,
Vestida de humildade, e até parece
Coisa que lá do Céu à terra desce
A fim de a todos nos maravilhar.

Mostra-se tão graciosa a quem a mira,
Que nos filtra através do olhar no seio,
Um dulçor que só entende quem o prova.

Parece que do seu lábio se mova
Um suspiro suave, de amor cheio,
Que vai dizendo a toda alma: suspira

Foto: s/t de Nuno Pedroso

Canção para uma Valsa Lenta

* Mário Quintana in Canções, 1946

Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro...
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar.
Se não me amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...
Foto: Pedra Nua vestida de Vermelho de Ramarago

E QUE A PAIXÃO NOS INUNDE. AMÉM.

Ticcia Antoniete

"Apaixone-se por mim.
Não um amor de mesa posta, talheres de prata, toalha de renda.
Não um amor de terça-feira, água morna, gaveta arrumada. Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva, rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente, latejante, um amor de carne, sangue e vazantes, um amor inadiável de perder o rumo o prumo e o norte, me ame um amor de morte.
Não me dê um amor adestrado que senta, deita, rola e finge de morto, que late, lambe e dorme.
Apaixone-se felino, sorrateiramente e assim que eu me distrair, me crave os dentes, as unhas, role comigo e perca-se em mim e seja tão grande a ponto de me deixar perder.
Ame minhas curvas, minha vulva, minha carne, me fecunde e se espalhe por meus versos, meus reversos, meus entalhes.
Faça eu me sentir amada, desejada, glorificada em corpo e espírito que eu nunca soube o que é ser de alguém, mas preciso que me ensines, que me fales, que me cales, amém. "


Foto: Carla Barata 8 de Luis Mendonça

SEM SINAL-DA-CRUZ



Fabrício Carpinejar

Mato por amor, mas não mato o amor.

Prefiro estar perturbado por um amor ao invés de seguro, calmo e salvo fora dele. Amor resolvido ou não, pouco importa. Que eu perca a cabeça, o saldo, a casa, os gostos. Perder é prova de que ainda tenho algo.

Um amor com nó de balanço, nó de pião, nó de barco, nó de cadarço, que cruze as cordas como pernas excitadas.

Que seja um amor inacabado, quebrado, ferrado, com nó cego de uma forca, desde que aperte bem forte para não soltar. Um amor rápido como um infarto, sem sinal-da-cruz. Um amor que desafie a sabedoria que vem depois da morte. Um amor burro que dependa apenas de um quarto para se cumprir. Um amor que não tire os sapatos para deitar. Um amor sofreguidão e gozo. Um amor hesitação irritante entre beijos. Um amor que não dá trégua para voltar atrás. Um amor que não oferece chance para ir à frente. Um amor que fica no mesmo lugar, que não traz sorte e azar, traz o desespero de ser amado um pouco mais.

Amar é mais importante do que viver. Viver pode vir depois.

Amor dói e me mobiliza, me desperdiça a encontrar o que não procurei. Eu me sinto melhor no mais fodido amor do que se estivesse pleno de saúde e reconhecimento. Sinto que dependo de alguém, e não somente de mim. A miséria do amor é um luxo.

Mesmo na separação, o amor diminui o espaço entre os dedos e afiança o olhar para mais longe. Qualquer lugar é passível de uma aparição, de um reencontro, da tremedeira dos joelhos, como se fossem autônomos e independentes do resto do corpo e rezassem para um Deus prestes a surgir.

Repara-se nas pessoas ao lado a adivinhar se alguma delas experimenta o mesmo torpor silencioso de mastigar as palavras e não digeri-las ou cuspi-las. O amante está sempre com uma palavra na boca, lapidada, aperfeiçoada, repensada, reescrita, que não sairá para passear com o mar. Não sairá numa confidência. Ficará como semente de uva, pequena demais para ser colhida do chão, mas de aspereza reconhecível para uma língua com sede.

O amor é infantil. Uma alegria de se entornar pela casa e se despreocupar com a arrumação. Ser adulto estafa, a recolher os brinquedos escondidos na areia sem ao menos ter brincado. O amor é insuportavelmente tolo. Quem não é tolo não permite carícias.

O amor não cansa de caminhar como a luz, não cansa de barulho como a chuva, não cansa de repetir as lembranças como o fogo.

Morro por amor, mas não morro o amor.


Foto: Convergências... de Ramarago

O Catador

Manoel de Barros

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado, ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro
nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de
Ser mais do que Ter.

Foto: anda comigo de Rui Vale de Sousa

4 de out. de 2007

Amado

Vanessa Da Mata


Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir,
não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você
Foto: onde esta o amor de Roberta Jardim

Enleio



Maria Teresa Horta

Não sei se volteio
Se rodopio
Se quebro
Se tombo nesta que
daem que passeio

Não sei se a vertigem
em que me afundo
é este precipício em que me enleio

Não sei se cair assim me quebra...
Me esmago ou sobrevivo
em busca deste anseio

Foto: Abril, dia 25 DE mANUELA vaZ

Catarse

Fernanda Pittelkow


Me coloco pra fora,
Me exponho,
Me lamento toda hora.

Me construo
Desatino,
Me destruo,
Desabafo.

Me escorro pelos olhos,
Saio de mim...
Para esquecer a tristeza
Lavo o rosto, o corpo,e a alma!
Choro!

Foto: MS3 de Carla Maio

Minuto de Silêncio

Jairzinho Oliveira

O mundo está por um minuto...
Um minuto de silêncio: um minuto pra pensar.
Pra tentar amanhecer a escuridão do sofrimento
O silêncio vai mostrar como desatar o nó
O silêncio vai gritar mais na paz de um minuto só
É momento pra querer outra situação
Situar melhor em silêncio a paz de um minuto só.
A paz de um minuto de silêncio
um só minuto...

Foto: Santa Cruz por socorro gomes

Qual a melhor companhia?

m u Johann Goethe


"Diz-se da melhor companhia:
a sua conversa é instrutiva,
o seu silêncio, formativo."

"A maior necessidade de um Estado
é a de governantes corajosos."

"Uma atividade sem limites acaba em bancarrota."

"Quem tem bastante no seu interior, pouco precisa de fora."

"O verdadeiro amor é aquele que permanece sempre,
se a ele damos tudo ou se lhe recusamos tudo."
"Ah, que diferença entre o juízo que fazemos de nós e o que fazemos dos outros!"

"Os jovens e as mulheres querem a excepção, os velhos querem a regra."

"O dever: gostar daquilo que prescrevemos a nós próprios."

"Mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos.
Esses é que são a essência viva da alma."

"Não há arte patriótica nem ciência patriótica.
As duas, tal como tudo o que é bom e elevado,
pertencem ao mundo inteiro e não podem progredir
a não ser pela livre ação recíproca de todos os contemporâneos
e tendo sempre em contra aquilo que nos resta
e aquilo que conhecemos do passado."

"Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira."

"Em toda a parte só se aprende com quem se gosta."

"Aprender a dominar é fácil, mas a governar é difícil."

"Onde me devo abster da moral, deixo de ter poder."

"O amor não se deve somente queimar, mas também aquecer."

"Um nobre exemplo torna fáceis as ações difíceis."

"Nada é mais repugnante do que a maioria,
pois ela compõe-se de uns poucos antecessores enérgicos;
velhacos que se acomodam; de fracos, que se assimilam,
e da massa que vai atrás de rastros,
sem nem de longe saber o que quer."

"Queres viver alegremente?
Caminha com dois sacos,
um para dares,
outro para receberes."

"Posso parecer ser sincero, mas não imparcial."

"A amizade é como os títulos honoríficos:
quanto mais velha, mais preciosa."

"A mais nobre alegria dos homens que pensam
é haverem explorado o concebível e
reverenciarem em paz o incognoscível."

"A juventude é a embriaguez sem vinho."

"Quando o interesse diminui, com a memória ocorre o mesmo"
Fonte: O Pensador
Foto: de X. Maya

2 de out. de 2007

Cantiga para não morrer

Ferreira Gullar de Dentro da Noite Veloz (1962-1975)

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Foto: Rui Bento Alves 1

Aos que sonham

Raul de Leoni

Não se pode sonhar impunemente
Um grande sonho pelo mundo afora,
Porque o veneno humano não demora
Em corrompê-lo na íntima semente...


Olhando no alto a árvore excelente,
Que os frutos de ouro esplêndidos enflora,
O Sonhador não vê, e até ignora
A cilada rasteira da Serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo.
E lembra, a cada instante e a cada dia,
O que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
O calvário do filho de Maria
E a cicuta que Sócrates bebeu!

Foto: A ver o cisne passar de Pedro Olivença

Envelhecendo

Emílio de Menezes

Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,
À proporção do mal, do bem à proporção.

Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.
E não sei onde o mal e o bem me levarão.

Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?

Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.

Foto: O peso da idade de André Boto

O que mais dói

Patativa do Assaré

O que mais dói não é sofrer saudade
Do amor querido que se encontra ausente
Nem a lembrança que o coração sente
Dos belos sonhos da primeira idade.

Não é também a dura crueldade
Do falso amigo, quando engana a gente,
Nem os martírios de uma dor latente,
Quando a moléstia o nosso corpo invade.

O que mais dói e o peito nos oprime,
E nos revolta mais que o próprio crime,
Não é perder da posição um grau.

É ver os votos de um país inteiro,
Desde o praciano ao camponês roceiro,
Pra eleger um presidente mau.

Foto: .deltitnU de Ricardo Machado

Tabacaria

Fernando Pessoa

TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Sobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê –
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como
tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928
Foto:Sem Limites de José Neves

A um Otimista

Augusto de Lima

Pensas que são inteiramente nossos
nossos corpos de argila? Não no creias.
Para reter a vida, em vão anseias:
dela não guardarás sequer destroços.

Não tens, fingido herdeiro de colossos,
destinado a guardar coisas alheias,
nem o sangue que corre em tuas veias,
nem a sutil medula de teus ossos.

Uma voz noutra voz reproduzida,
reproduzindo antiga voz perdida,
o eco responde à voz — eco também...

Ris-te da sombra que refletes?
Ri-setambém de ti a sombra: — quem te disse
que não és — olha atrás! — sombra de alguém?
Foto: Liberal Natural de Alberto Calheiros

Sobre a loucura

Lima Barreto

"Quem uma vez esteve diante deste enigma indecifrável da nossa própria natureza, fica amedrontado, sentindo que o gérmen daquilo está depositado em nós e que por qualquer cousa ele nos invade, nos toma, nos esmaga e nos sepulta numa desesperadora compreensão inversa e absurda de nós mesmos, dos outros e do mundo. Cada louco traz em si o seu mundo, e para ele não há mais semelhantes, o que foi antes da loucura é outro muito outro do que ele vem a ser após. E essa mudança não começa, não se sente quando começa, e quase nunca acaba..."

Foto: Zen deRicardo Costa

Uma Alegria para Sempre

Tentando descobrir a autoria credita a Mário Quintana

As coisas que não conseguem ser olvidadas
continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,nesse mundo do sempre
onde as datas não datam.
Só no mundo do nunca existem lápides...
Que importa se - depois de tudo - tenha "ela" partido
ou que quer que te haja feito, em suma?
Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua e, esta,
ela jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e não do teu passado.
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando,
deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata
criatura...
A thing of beauty is a joy for ever-
disse, há cento e muitos anos,
um poeta inglês que não conseguiu morrer.

Foto: Haja Alegria!!! de Vasco Ribeiro
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