16 de mai. de 2010

Fim


Abgar Renault


O que eu perdi não foi um sonho bom,
não foi o fruto a embebedar meus lábios,
não foi uma canção de raro som,
nem a graça de alguns momentos sábios.

O que eu perdi, como quem perde uma outra infância,
foi o sentido do enternecimento,
foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,
na minha carne e no meu pensamento,
a última rubra flor do fim da mocidade.

E dói - não esse gesto ausente, a que se apaga
as flores mais solares, mas uma hora,
- flor de momento numa breve aurora –
hora longínqua, esquiva e para sempre morta,
em cuja escura, inacessível porta
noturnos olhos cegamente vagam. 

Foto: De José Manuel Carvalho

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails