Gilberto Brandão Marcon
Não deveria estar triste,
Mas de fato estava.
Queria não ter ansiedade,
Mas estava ansioso.
Desprezava a autopiedade,
Mas sentia-se fraco para abandoná-la.
Queria mover-se rapidamente,
Mas seus passos estavam inertes.
Tinha o ideal de muito construir,
E a realidade só fazia destruir.
Almejava a explosão de forças,
Mas deprimia-se acuado.
Poderia se entregar ao medo,
Mas se enchia de coragem agressiva.
Caído, fazia-se impiedoso consigo.
Zombava de si, e desafiava-se à luta.
Erguia o punho à indiferença do tempo,
Rebelava-se contra o determinismo.
Atraía-lhe o afeto da suave chuva,
Mas o coração queria tempestade.
Rejeitava o mundo externo
E mergulhava na sua intimidade.
Um jogo de realidade e ilusão,
A verdade lutando com a mentira.
E quem pode dizer o que é certo?
E quem pode afirmar o errado?
Meros servos da moral que somos,
Ainda longe da filiação da ética.
E toda dignidade pode ser encenação.
E todo idealismo, exercício de hipocrisia.
E então possuidores, seremos desprovidos.
Crentes da riqueza, seremos miseráveis.
A dor aguda pode anestesiar.
O marasmo pode tornar-se costume.
A indiferença pode justificar a covardia
E muito querendo, pode-se ter nada
Foto: s/t de Mario Pereira
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