30 de abr. de 2011

Alcoólicas


Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.


Foto: 'O Fascínio da Luz' de Artur Ferrão
ao som de Lenine Lenine - Paciência

3 comentários:

Márcio Cunha disse...

Poesia é refúgio.
para fracos e para fortes,
só interessa este momento
o silêncio e o barulho,
o drible e a desculpa,
ficar em casa ou sair.
O vinho ou a cachaça.
Ou você ou eu!

VALTER FIGUEIRA disse...

Adorei seu blog
Parabéns..

Eduardo Santos disse...

Olá Nane. Interessante o seu espaço, dá prazer deslizar devagarinho pelos textos, para assim poder apreciar a vida que deles emana. Boa selecção e sobretudo bom gosto, são qualidades que admiro. Tudo de bom, espero voltar.

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