Aqui eu conto meus pontos, conto poesia dos outros, conto músicas que amo, e de vez em quando conto os meus contos!
2 de dez. de 2008
Palavras de Ariano
30 de nov. de 2008
A Seta e o Alvo
Paulinho Moska e Nilo Romero
Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Foto: Why do people feel alone. . . de Dr. Bahraini
21 de nov. de 2008
Formas
Adélia Prado
De um único modo se pode dizer a alguém:
'não esqueço você'.
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo porque bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas no meu ouvido
'não esqueço você'.
Manchas de luz na parede,
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.
Foto: mh2 de Concheven
Balada da Irremediável Tristeza
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio... vazio...
Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo... doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear... cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...
como te amo?
Elizabeth Barrett Browning
Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.
Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo
e ao mais alto que a minha alma pode alcançar
buscando, para além do visível dos limites
do Ser e da Graça ideal.
Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todos
os dias à luz do sol e à luz das velas.
Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutam
pela Justiça;
Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.
Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoas
e com a fé da minha infância.
Amo-te com um amor que me parecia perdido – quando
perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os
sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!
E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.
Foto: butterfly, dave matthews band de Auro
14 de nov. de 2008
Como dizia o poeta
(Vinícius de Moraes, "Como dizia o poeta" (1971, )
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não
Foto: ...na areia da praia... de Alicina
Sempre Clarice
13 de nov. de 2008
Biografia do Orvalho
Manoel de Barros
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas UM
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
Manoel de Barros, “Retrato do Artista Quando Coisa” (1998)
Foto: My vendetta de Eleutera
10 de nov. de 2008
Manoel de Barros
Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absurda.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso porque não encontrava um título para os seus poemas. Um título que harmonizasse os seus conflitos. Até que apareceu Flores do Mal. A beleza e a dor. Essa antítese o acalmou.)
As antíteses congraçam.
Foto: De Pedro Miguel Costa
25 de out. de 2008
Maquiável
24 de out. de 2008
De Clarice
PEDAÇOS DE MIM
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos
Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão
Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante
Já
Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir, para não enfrentar
sorri para não chorar
Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei
Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
Foto: de Jorge Soares
19 de out. de 2008
É muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama
Ademir Antonio Baccado livro “Pandorgas ao Vento”
Ademir Antonio Baccado livro “Pandorgas ao Vento”
Tempo de solidão
Clarice sempre!
15 de out. de 2008
Um instante
28 de set. de 2008
BENDITAS
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma
Foto: delirio não sei a autoria
27 de set. de 2008
Os Espaços Vazios
com os espaços que ficam
depois que alguém vai embora
uma dúvida insiste
e de tanto, o meu tentar desiste
de trocar a ausência
por qualquer coisa que fira menos:
nada para repor
nada para suprir
nada que realmente comportasse
o encanto de algo que ficou
para trás
Atrevimento
Não acredito em meus medos
Nem crio mais pesadelos
Que me fazem perder
Não acredito em meus debates
Nem crio mais impasses
Que me fazem reter
Sou inteira em cada envolvimento
Saltando buracos ao relento
Com vínculo ao clarear
Sou certeira em cada movimento
Cortando as curvas do vento
Com ímpeto ao voar
Foto:let's stay together de Paulo Franco
23 de set. de 2008
Cáh Morandi
Por Ti Deixei
Por ti deixei, do meu rebanho lento
a alva timidez; da minha casa
o fogo acolhedor tornado brasa
e a brasa morta transformada em pranto.
Das mãos de minha mãe ficou-me o manto,
da boca de meu pai restou-me a frase
e estes meus olhos são cisternas rasas
onde à tardinha vem beber o vento.
Ponho a teus pés o meu desejo triste
que se renova numa força eterna,
e te ofereço uma fraqueza a mais;
pedaço do meu tronco que partiste,
carne, que foste um pouco de meu cerne!
À minha própria carne tornarás.
Foto: Face de Alexandr Bravo
Antes de Amarte
vacilei pelas ruas e as coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
hangares cruéis que se despediam,
perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morro e mundo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua beleza e tua pobreza
de dádivas encheram o outono.
Mundo Grande
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao
suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
14 de set. de 2008
Coisa Tua
assim que vi você
logo vi que ia dar coisa
coisa feita pra durar,
batendo duro no peito
até eu acabar virando
alguma coisa
parecida com você
parecia ter saído
de alguma lembrança antiga
que eu nunca tinha vivido,
mas ia viver um dia
alguma coisa perdida
que eu nunca tinha tido
alguma voz amiga
esquecida no meu ouvido
agora não tem mais jeito,
carrego você no peito
poema na camiseta
com a tua assinatura
já nem sei se é você mesmo
ou se sou eu que virei alguma coisa tua.
Alice Ruiz
Sonhar
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.
Foto: Infinito de David Ligeiro
3 de set. de 2008
Astolphe de Custine
"Diz-se que o egoísmo não sabe amar, mas também não sabe deixar-se amar"
"Quantos homens consideramos felizes apenas porque os vemos passar "
"Temer não é desdenhar; não se despreza aquilo que se teme "
"Quando estamos decididos a ver as nações como queremos, não precisamos de sair de casa "
Foto: Indo para a Missa... de marisa Caetano
L\ e essentiel est invisible pour les yeux...
“A moda é como arquitetura, pura questão de proporções."
"A natureza nos dá o rosto dos 20 anos. A vida modela o dos 30. Mas temos que merecer o rosto dos 50.” ·
"Elegância é tudo aquilo que é belo, seja no direito seja no avesso."
"A roupa deve ser, antes de tudo, cômoda e prática. É a roupa que deve adaptar-se ao corpo e não o corpo que deve deformar-se para adaptar-se à roupa."
"Os homens que querem se fazer notar pelas roupas são uns cretinos. As mulheres podem sobreviver a quase todas as formas de ridículo; um homem ridículo está perdido, a menos que seja gênio."
"Aos 50 anos a mulher é responsável por seu rosto. Ninguém é jovem aos 50. Costumo dizer aos homens: acham que ficam mais bonitos carecas?”
"
1 de set. de 2008
A Coisa Mais Linda Que Existe
Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim
Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura
A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim
O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim.
Foto: Lá vão elas de Rui Fajardo
De Não Ser, Sendo Constantemente
Não sou o mesmo de olhar vazio
e palavra sem conseqüência usada
Andei pesando este medo
em interrogações do que seria o poeta
ante estruturas que o antecederam,
cercos de ferro, fechos de ferro, cercos.
No caminho de minha volta
esqueci canções, dupliquei memórias,
e aceito como verdade humana
que o homem é um caminho ao homem,
processo e pouso, caminhante e rota.
Foto: temáticas - sinais e simbolos de Silvia Antunes
30 de ago. de 2008
In Memórias inventadas: a segunda infância"
...que a importância de uma coisa não se mede
com fita métrica nem com balanças
nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida
pelo encantamento que a coisa produz em nós.
Foto: Trilhos sem fim ... de Sandra Marques
Esse trecho foi enviado ao meu orkut pela minha conterrânea Ana Karla
27 de ago. de 2008
MADRIGAL MELANCÓLICO
Manuel Bandeira
O que eu adoro em ti
não é tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti
não é tua inteligência.
Não é teu espírito sutil,
tão ágil, tão luminoso
— ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
não é a tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como o teu próprio pensamento,
graça que perturba e que satisfaz.
O que adoro em ti
não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti — lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti é a VIDA!
Foto: Jump de Jorge Casais
16 de ago. de 2008
SONHOS
Sonhei que era a tua amante querida,
A tua amante feliz e invejada;
Sonhei que tinha uma casita branca
À beira dum regato edificada…
Tu vinha ver-me, misteriosamente,
A horas mortas quando a terra é monge
Bater o coração quando de longe
Te ouvia os passos. E anelante
Estava nos teus braços num instante,
Fitando com amor os olhos teus!
E, vê tu, meu encanto, a doce mágoa:
Acordei com os olhos rasos d´água,
Ouvindo a tua voz num longo adeus!
Foto: Nuno Belo
16 de jul. de 2008
Canção amiga
Milton Nascimento
Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos
Caminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos
Eu distribuo segredos
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois caminhos se procuram
Minha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças
Foto: Enquanto dormias... de Isidro Dias
Exausto
15 de jul. de 2008
Sem Tempo
Angela Carneiro
Me falta tempo
para ler todos os livros que quero
Me falta tempo para passeios e praias
e as locadoras com seus filmes
Felinis que não vi
e os museus que me esperam
me falta tempo.
Me falta tempo para amar os flertes
e aprofundar as amizades de coquetéis
me falta tempo para arrumar o armário
jogar coisas fora
passar a limpo a caderneta de telefone
redecorar o quarto
Me falta tempo para o orfanato
e ajudar o meu vizinho a pendurar o quadro na parede.
Me falta tempo para aprender japonês
pintar em tecido
tocar piano
tecer meus planos
Me falta tempo para as aquarelas que sonho
preciso anotar meus sonhos
Mas
me falta tempo.
Tempo para os amigos antigos que já me esqueceram
tempo para as músicas e cds
tempo para o estrangeiro, ilhas e cantões a conhecer
Me falta tempo para os poemas que a poesia me exige
e gravar os programas de TV
e nunca os ver
no entanto,
quantas vezes não tenho nada, absolutamente nada
para fazer.
Foto: Janela Indiscreta de Vitor Nunes
:
29 de jun. de 2008
Affonso Romano de Sant'Anna.
7 de jun. de 2008
Engorda
Leila Miccolis
Ilusões para os aflitos,
para a mulher, segurança,
para a casa, samambaias,
consolo para os doentes,
conselhos aos desgarrados,
aos leitos de amor, cambraias.
Sorriso para as crianças,
esmolas para os famintos,
para os homens, futebol,
televisão para todos
e alface para as cobaias.
Foto: À espera... de sIsabel gomes da silva
Para Ler De Manhã E À Noite
1 de jun. de 2008
Pérola Negra
Tente passar pelo que estou passando
Tente apagar este teu novo engano
Tente me amar, pois estou de amando
Baby, te amo, nem sei se te amo
Tente usar a roupa que estou usando
Tente esquecer em que ano estamos
Arranje algum sangue, escreva num pano
Pérola Negra, te amo, te amo
Rasgue a camisa, enxugue meu pranto
Como prova de amor mostre teu novo canto
Escreva num quadro em palavras gigantes
Pérola Negra, te amo, te amo
Tente entender tudo mais sobre o sexo
Peça meu livro querendo te empresto
Se intere da coisa sem haver engano
Baby, te amo, nem sei se te amo...
Foto: hi ! do album de Moonchild
Teus filhos não são teus filhos.
Teus filhos não são teus filhos.
Eles são os filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de ti, mas não de ti,
E embora estejam contigo, não te pertencem.
Podes dar-lhes o teu amor, mas não os teus pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos,
Podes abrigar-lhes o corpo, mas não a alma,
Pois sua alma mora na casa do amanhã,
que não podes visitar, nem mesmo em sonhos.
Podes esforçar-te para ser como eles, mas procura não fazê-los
ser como tu,
Pois a vida não anda para trás nem se demora no dia de ontem.
Foto: Primogénito de António Amen
Nasci antes do tempo
Cora Coralina
Tudo que criei e defendi
nunca deu certo.
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?
Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim acontecia a alguem:
Fulano nasceu antes do tempo.
Guardei
Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
Nasci antes do tempo.
Alguém me retrucou.
Você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.
Foto: Pintura matisse
25 de mai. de 2008
de amargar
Capiba
Eu bem sabia que esse amor um dia
Também tinha seu fim
Essa vida vida é mesmo assim
Não penses que estou triste
Nem que vou chorar
Eu vou cair no frevo que é de amargar.
Eu já arranjei outra morena bonita
Anda bem vestida, cheia de laço de fita
Gosta de mim com toda emoção
E já se diz a dona do meu coração.
Eu bem sabia que esse amor um dia
Também tinha seu fim
Essa vida vida é mesmo assim
Não penses que estou triste
Nem que vou chorar
Eu vou cair no frevo que é de amargar.
Minha morena empre diz, quando me vê
- Gosto de você, não sei como e porque.
Me faz carinhos a todo momento
Porém eu tenho medo do seu juramento.
Tenho uma coisa pra lhe dizer
Mas não digo não porque faz mal ao coração.
Tenho uma coisa pra lhe dizer
Mas não digo não porque faz mal ao coração.
Não confessarei o meu segredo
Só porque você é convencida
Pois se eu lhe contar você vai rir
E sem querer eu vou chorar por você, minha querida.
Tenho uma coisa pra lhe dizer
Mas não digo não porque faz mal ao coração.
Tenho uma coisa pra lhe dizer
Mas não digo não porque faz mal ao coração.
Eu sei que você gosta de outro
Mas eu lhe queria mesmo assim
O meu coração eu lhe darei
Porém com uma condição, se você disser que sim.