30 de ago. de 2008

In Memórias inventadas: a segunda infância"

Manoel de Barros

...que a importância de uma coisa não se mede
com fita métrica nem com balanças
nem barômetros etc.

Que a importância de uma coisa há que ser medida
pelo encantamento que a coisa produz em nós.


Foto: Trilhos sem fim ... de Sandra Marques
Esse trecho foi enviado ao meu orkut pela minha conterrânea Ana Karla

27 de ago. de 2008

MADRIGAL MELANCÓLICO

Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti
não é tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti
não é tua inteligência.
Não é teu espírito sutil,
tão ágil, tão luminoso
— ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
não é a tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como o teu próprio pensamento,
graça que perturba e que satisfaz.

O que adoro em ti
não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti — lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti é a VIDA!

Foto: Jump de Jorge Casais

16 de ago. de 2008

SONHOS

Florbela Espanca

Sonhei que era a tua amante querida,
A tua amante feliz e invejada;
Sonhei que tinha uma casita branca
À beira dum regato edificada…

Tu vinha ver-me, misteriosamente,
A horas mortas quando a terra é monge
Bater o coração quando de longe
Te ouvia os passos. E anelante
Estava nos teus braços num instante,
Fitando com amor os olhos teus!

E, vê tu, meu encanto, a doce mágoa:
Acordei com os olhos rasos d´água,
Ouvindo a tua voz num longo adeus
!

Foto: Nuno Belo

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